Filosofia pra quê?

Eu curso uma segunda graduação em Filosofia. Aí você se pergunta: Filosofia pra quê? Algumas más línguas dirão que é apenas pela carteira de estudante para pagar meia entrada nos shows e no cinema. Outros talvez se perguntem, mas, afinal, para o que serve a Filosofia? Nada melhor que uma pergunta para começar a falar de Filosofia, afinal, do pouco que aprendi estudando-a (tenho consciência de que não sou um aluno muito dedicado, infelizmente), certamente a melhor lição é que importa mais fazer as perguntas certas do que propriamente encontrar as melhores respostas. Mas isso que os gregos iniciaram ainda antes de Cristo e que não parece mais do que uma conversa de louco pra muitos, ainda tem sentido e utilidade nos dias de hoje? Posso apostar que sim, mas não devemos avaliar sua importância pelo critério da utilidade, como um saber que te capacita para uma profissão específica, por exemplo, ou como algo cuja aplicação permita um retorno financeiro qualquer. A Filosofia não é prática porque depende da teorização e do diálogo de ideias para avançar nas suas investigações e na compreensão que daí se espera - ou se busca - em relação a determinado fenômeno. Mas, nem por isso, a Filosofia desconsidera o mundo real, pelo contrário, suas grandes questões abordam a vida prática de cada um e de todos coletivamente. Não à toa, dentre os maiores campos de investigação atuais da Filosofia está a Ética, ou seja, aquilo que é bom e não é para nós como indivíduos e sociedade, incluindo a nossa relação com o planeta em que vivemos. A Filosofia teoriza, sim, para formular as questões sobre os problemas reais com os quais a sociedade se depara em cada época e busca contribuir também com soluções para resolvê-los. Ela ilumina o caminho da humanidade, analisando o presente e antecipando o seu futuro, na tentativa de entendê-lo, se adaptar a ele e alertar de perigos. É por isso que os filósofos ainda são ouvidos com respeito e atenção, embora não exista uniformidade nas suas opiniões e haja sim muita especulação teórica de relevância ou embasamento discutível. Mas a voz de um filósofo, espera-se!, é a de quem que refletiu sobre alguma questão que parece ser importante e, por isso, merece ser ouvida nesses tempos tão velozes e superficiais. Exemplo disso, na semana passada, circulou nas redes sociais uma matéria da Folha de São Paulo com o seguinte título: "Humanidade não sobreviverá a este século, diz filósofo italiano Franco Berardi sobre colapso ambiental". Quando vi esse post, ele tinha 17,3 mil curtidas, 510 comentários e 2.344 compartilhamentos. Não era, portanto, uma opinião irrelevante. À distância, através dos professores e valiosas indicações de leituras, vejo que a Filosofia hoje é espaço para discussão de questões determinantes para nós e o mundo em que vivemos, muitas vezes no mesmo nível de importância da ciência, refletindo sobre nossas decisões, já em andamento ou que urgem ser tomadas, em temas como a inteligência artificial, a crise climática, o futuro do trabalho e a biotecnologia, só para citar alguns dos maiores. E se, por um lado, não me considero um filósofo do ponto de vista acadêmico por aquilo o tanto que não consegui me dedicar ao estudo das fontes obrigatórias da Filosofia para formar uma base sólida de pensamento, por outro lado entendo que ser filósofo não exige diploma e que a Filosofia pode ser praticada livremente, como o faziam os primeiros filósofos gregos nas ruas de Atenas, lapidando suas ideias colocadas à prova no bom debate, porque o filosofar é isso mesmo, a busca constante do que há para conhecer com base no uso da razão.

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