A escolha de ser Luís Fernando Verissimo
Na madrugada do que seria um lindo sábado de sol, faleceu ontem o escritor, cartunista e músico Luís Fernando Veríssimo, aos 88 anos de idade, em Porto Alegre. Não superou o agosto, depois de vários dias internado tratando um quadro de pneumonia. Logo as redes sociais e os meios de comunicação foram tomados sobre informações da vida e obra do escritor gaúcho, com suas frases carregadas de ironia e profundidade, a timidez nas raras entrevistas e a unanimidade sobre o seu talento em crônicas humoradas do nosso cotidiano. Foi curioso saber, dito por ele, que começou a escrever tarde, somente aos 30 anos, em dúvida se deveria ser um escritor como o seu pai, Érico. De fato, embora tenha escrito algumas novelas e romances, destacou-se mesmo no ofício de cronista e contista, com personagens marcantes como o detetive sem glamour Ed Mort e o pitoresco Analista de Bagé. Também me chamou a atenção uma de suas frases: “vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido”. Quanta verdade! Ele, que morou nos Estados Unidos quando jovem, também era músico de jazz e jornalista, enfim, poderia ter sido muitas coisas, inclusive longe do Brasil, mas acabou escolhendo o desafio de escrever à sombra do pai quando já era adulto - ou seja, com menos tempo para errar - e retornar a Porto Alegre, sem que nada disso prejudicasse o seu sucesso e o reconhecimento nacional que alcançou. Se não fosse o escritor que escolheu ser, provavelmente não o conheceríamos e sua morte não causaria nenhuma comoção. Parece, olhando assim, que escolheu a melhor alternativa: consagrado em sua arte, um casamento duradouro e uma família harmoniosa. Escolheu, no entanto, o que para muitos poderia parecer o mais arriscado: viver de livros e crônicas em jornais. Como o fez Gabriel Garcia Marquez ao abandonar uma rentável carreira publicitária pela literatura, e como fizeram a maioria dos grandes escritores que o foram de corpo inteiro. Luís Fernando escolheu ser escritor, acertou e foi grande, sendo fiel a essa escolha e a sua obra, que agora se eterniza. Mostrou que sempre estaremos melhor onde devemos estar, mesmo que às vezes seja difícil enxergar ou aceitar a escolha.
Texto em homenagem a Luis Fernando Veríssimo, um dos meus primeiros escritores preferidos.
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