Porque não sou um maratonista

Admiro quem se propõe a ser um maratonista ou a encarar desafios físicos extremos, como escalar o Everest ou fazer triatlo. Mas isso, hoje, não é pra mim. E olha que sempre fui de praticar esportes e cuidar da saúde. Ocorre que sou bem ciente do nível de exigência física, disciplina e dedicação envolvidos em práticas esportivas de alto rendimento, sabendo o tamanho do preço a pagar para poder encarar um desafio desses. E por que eu me proporia a isso? Afinal de contas, não sou um aficionado por esse tipo de prática esportiva e, principalmente, me falta uma razão para me propor a tamanho desafio. Penso que qualquer um que se proponha a correr e concluir uma maratona, arriscando a própria saúde, tem que ter uma motivação maior do que todas as objeções que aparecerão pelo caminho, a começar por sair do ócio - estado que muito me agrada. Essa motivação, a meu ver, tem que representar algo muito significativo para o candidato à maratona, como a superação de uma grave doença ou de um vício, uma promessa alcançada ou uma homenagem a uma pessoa amada, um propósito de vida, uma prova de seu próprio valor, enfim, um motivo à altura do desafio. Um "pra quê" convincente. A pior coisa que pode acontecer a alguém que vá encarar uma maratona é não ter esse motivo relevante, deixando-se apenas levar pela influência ou estímulo de amigos ou por apelos de um modismo momentâneo, dedicando tempo e esforços quase sobre-humanos a algo que não terá maior significado. Da minha parte, reconheço, não tenho essa motivação. Talvez no futuro algo me leve a considerar a autoimposição de tamanho objetivo, mas hoje nada me faria treinar e me preparar para uma maratona, dedicando um grande período do meu tempo em que poderia estar me dedicando a tantas outras coisas que gosto de fazer - inclusive a não fazer nada -, adotando dietas alimentares, horários rígidos de sono e treinos que não condizem com os meus hábitos atuais, somente para encarar uma prova física extrema. Lembre-se que a maratona remonta à mítica corrida de Filípides, desde a cidade de Maratona até Atenas, por volta de 490 a.C., para levar a notícia da vitória dos exércitos atenienses sobre os persas, vindo ele a morrer de exaustão logo após cumprir sua missão. Nosso primeiro maratonista foi impelido por nobres motivos e, bom soldado que era, cumpriu a ordem que lhe foi dada com a própria vida. A história está aí pra lembrar, então, que se você morrer correndo uma maratona que não seja de graça...



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