O morcego na sala de estar
Por vezes, desfrutamos de momentos em nossas vidas em que tudo parece perfeito. A vida pessoal, o trabalho, as realizações e conquistas, a saúde - é claro! -, o amor...enfim, tudo o que mais nos interessa reverbera plenitude e uma paz satisfatória, que podemos até chamar de felicidade, a nos envolver como se, de fato, estivéssemos nas nuvens. Então você está gozando essa situação sublime, sentado na poltrona de sua sala de estar, quando um morcego adentra pela janela e, com toda a sua feiúra e repugnância, acaba com o seu desfrute e o joga no pânico de, prontamente, ter que lidar com algo tão desagradável. Poderia ser um rato também, ou uma barata, ou ainda, para não nos restringirmos aos animais de pouco apreço popular, uma má notícia, um acidente de carro, a batida da canela na quina da mesa, ou até a morte de um ente querido. Mas, você deve estar se perguntando, para que pensar em estragar um momento tão bom com coisas negativas? Porque, é importante lembrar, não existem períodos em nossas vidas que sejam totalmente bons ou ruins, como se uma corrente de acontecimentos positivos excluísse a ocorrência de quaisquer situações negativas. E o inverso também é verdadeiro, e talvez mais importante ainda, que é quando estamos passando por um período difícil e temos a tendência a pensar que, por isso, não há nada que possa ser bom acontecendo. Mas haverá, sim, coisas boas que você facilmente identificará se se propuser a isso: a ajuda e o apoio que você recebe de alguém, por exemplo, é uma delas. E mais, o que é até irônico, é como subitamente deixamos de dar valor ao que já conquistamos (materialmente ou não) diante de um revés ou uma situação difícil, como se aquele momento negativo fosse maior do que tudo que já foi ou ainda é bom. O melhor, parece, é aceitar que mesmo quando estiver tudo bem, quando aquilo que, de fato, mais interessa estiver bem, poderão acontecer coisas ruins, pequenas ou não, como um morcego na sala de estar, que não devem tomar proporção maior do que a que realmente lhes cabe, para que não afetem o prazer de estar vivendo um bom momento na sua vida; ou, se for algo realmente grave, para lhe permitir ter esperança de um dia superar e voltar a viver esses momentos de felicidade.
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