O Brasil no Oscar 2025 e a história de Eunice Paiva
O Brasil - e o mundo! - foi surpreendido pelas indicações do filme brasileiro "Ainda estou aqui" ao Oscar 2025 de Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz para a protagonista Fernanda Torres. Um filme nacional, com baixo orçamento e que conta uma história antiga surpreendeu, sim, em meio às superproduções de Hollywood e seus grandes astros. No entanto, embora antiga, a história de Eunice Paiva ainda é bastante atual, sobretudo quando vivemos uma época obscurecida por um aparente predomínio do pensamento conservador que impõe constantes ataques à liberdade e pluralidade democráticas, conquistadas a duras penas e perdas - como a de Rubens Paiva, vítima da repressão política no período ditatorial brasileiro, que hoje, irresponsavelmente, muitos relativizam e até gostariam de restabelecer. Um dos meus livros de iniciação na literatura, dado a mim por meu pai na minha adolescência, foi "Feliz ano velho", marco geracional escrito por Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens e Eunice, que retrata a sua própria juventude em meio ao desaparecimento do pai e ao acidente que o deixou paralítico, ambas situações fortemente transformadoras de sua própria vida. O livro, à época, já me chamava a atenção para o que ocorria por trás de um regime militar de governo já então decadente e no caminho da reabertura política. A maioria de nós, aí me referindo a mim mesmo, minha família e amigos em nossa pequena cidade do interior, desconhecia na pele os crimes praticados durante o regime militar e o próprio alcance da censura imposta por aquele Estado de exceção, mas isso não nos permite dizer que tais crimes e repressão não ocorreram. Ao contrário, tanto a história oficial (embasada) quanto os inúmeros depoimentos de quem perdeu seus entes queridos, como os Paiva, estão aí para nos fazer recordar sempre que houve vítimas, muitas!, torturas e repressão das mais diversas formas, e para lembrar que isso não é nada bom, nem aceitável. "Ainda estou aqui", o livro escrito por Marcelo Rubens Paiva e o filme brasileiro nele baseado, mostram o testemunho e a luta de sua mãe Eunice em busca do marido raptado por uma ordem política violenta, que só pôde ser hoje realizado e exibido para todo mundo porque vivemos atualmente em uma democracia, estando precisamente aí a relevância atual dessa história, ao nos fazer lembrar o quanto conseguimos evoluir como sociedade e o cuidado que devemos ter para não retroceder, porque a democracia, meus amigos, é tão frágil quanto a vida de qualquer um submetido a uma ditadura.
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