Os donos do campinho
Os donos do campinho da minha infância eram, apenas, os melhores. Sim, os melhores da bola que se jogava ao final da tarde no campinho de grama da praça pública, próximo da minha casa. Não os donos da bola, ou os mais valentes ou populares. Porque era campo aberto a todos que chegassem, a maioria gente pobre e simples, alguns de classe média, que jogavam com tênis a ou descalços, não importava. Não havia juiz, nem torcida, nem pais ou mães por perto. Havia as regras do jogo e o respeito imposto pela força ou tamanho do outro, mas principalmente pelo talento dos que eram reconhecidos os melhores jogadores. Havia uma hierarquia, que atribuía a uns poucos esse status de donos do campinho, e os outros tantos que, assim como eu, apenas estavam ali tentando jogar uma bola. Ainda hoje lembro os seus nomes e como jogavam. Alguns de uma forma elegante e com porte majestoso, outros, abusados, que gostavam de exibir suas habilidades e debochavam dos "pernas-de-pau", ou ainda os operários que lideravam o time no caminho da vitória. Quando vejo alguns deles aqui na cidade, sinto que talvez tivessem vivido naquele tempo o período glorioso de suas vidas, quando eram venerados pela plebe futebolística como os reis da bola na nossa pequena arena desportiva. Muitos deles hoje demonstram as durezas da vida adulta que vêm levando desde então, curvados e envelhecidos pelo trabalho braçal, o trago ou a perda da alegria que tinham no futebol que o corpo não permite mais jogar como antes. Talvez tivessem um futuro na carreira esportiva, porque éramos testemunhas de como eram bons, mas não tiveram a chance, ou foram arrastados para algum serviço pela necessidade de sustento. Mesmo assim, permanecem ídolos nas memórias de quem passou por aquele campinho onde eram os donos, com seus lances mágicos na luz daqueles entardeceres, conquistando eternamente nossa admiração. A eles, minha reverência, foi um privilégio vê-los jogar!
Dedicado ao Henrique, Guego, Loivo e outros tantos craques do campinho.
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