A minha dívida com a cultura negra musical
Neste 20 de novembro comemoraremos o primeiro feriado nacional da Consciência Negra. A meu ver, justíssimo, pelo tanto que as populações negras das mais variadas origens contribuíram para a formação da identidade nacional, e pelo muito que merecem ser reconhecidas após tanta exploração e sofrimento a que foram submetidas, desde a época da escravidão e ainda nos dias de hoje, na desigual ocupação de espaços nos segmentos mais favorecidos de nossa sociedade. Mas, falando do ponto de vista pessoal, quero declarar que sou devedor - e muito! - da cultura negra musical, e assim quero continuar sendo como um grande admirador e fã da música feita ou originada de artistas, músicos e compositores negros. Particularmente, não gosto nem costumo fazer esse tipo de distinção racial em qualquer outra situação. Penso que qualquer julgamento ou preconceito relacionado a cor ou origem de alguém representa a forma mais elevada de ignorância que alguém pode ter. Por outro lado, a distinção aqui serve para reconhecer e valorizar a contribuição do negro também na música ocidental. A começar pela África onde, provavelmente, a música começou a ser feita com os tambores que, ao emularem o som dos trovões, serviam para embalar as danças e rituais destinados a pedir pela chuva aos céus. Os ritmos africanos ganharam o mundo pelas vias tortas das rotas do comércio de escravos, alcançando a América e a Europa, onde se fundiram com outras estilos e vertentes musicais sem nunca se perderem das próprias origens, gerando, com isso, o blues, o jazz e o rock, o samba, enfim, a música popular como um todo, em maior ou menor grau. A música que serviu para expressar e aliviar a dor de negros escravizados e oprimidos em tempos mais difíceis, é a mesma que passou a permitir que todos conhecêssemos a beleza que essa mesma música contém, transformando-se assim numa expressão artística inigualável e mundialmente aclamada. A música e a arte em geral podem surgir mesmo diante das condições mais adversas, permitindo a um indivíduo ou mesmo a todo um povo, transcender as dificuldades de uma época para se eternizar como manifestação de luta, resistência e afirmação da própria identidade cultural, tornando-se assim um legado a toda humanidade. Minha sincera homenagem, gratidão e respeito a todos os negros que fizeram e ainda fazem a história da música mundial.
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