O ego do artista
A semana que passou foi marcada pela notícia que assolou o meio musical e os fãs de todo o planeta: o retorno da banda Oasis com os irmãos Liam e Noel Gallagher, após uma separação tumultuada que durou 15 anos. Os dois nunca foram os queridinhos da mídia, ao contrário, sempre se esforçaram em passar uma imagem de soberba sem limites e desprezo por quase tudo, exceto talvez por seus ídolos confessos - os Beatles - e pelo time de sua cidade natal, o Manchester City. Por isso, angariaram também muita antipatia, até mesmo entre o público que admirava suas canções, mas não ia lá muito com a cara dos ingleses, separando bem o apreço musical da idolatria aos artistas. Esses mesmos artistas polêmicos e mundialmente famosos, aliás, podem servir para tratar de um outro assunto que tem tudo a ver com eles e com todos que vivem de expressar sua arte, mais ou menos conhecidos e idolatrados. O ego do artista, talvez, seja a qualidade ou condição inerente a quem se lança ao ato de se apresentar, representar ou manifestar-se artisticamente de alguma forma ao público, como profissional ou amador. Esse ego, na minha humilde opinião, totalmente desprovida de qualquer embasamento teórico e que resulta da minha observação e proximidade de alguns artistas, genuínos ou nem tanto, ao longo de muito anos, esse ego é essencial a qualquer um que pretenda se estabelecer no meio artístico. Por quê? Porque para ser um artista, é necessário ter confiança exacerbada na própria arte, acreditar que ela é do interesse de outros, de todo um mundo que anseia por (re)conhecê-la, como acredita o artista, e que será revelada por ele, numa música, em um livro, numa representação cênica, no que for. Se o artista não se considerar o portador de algo mágico e monumental a ponto de transformar a humanidade ou, ao menos, ganhar a atenção das pessoas, ele nunca será um e muito menos será grande. O excesso de confiança vem do deslumbramento com a própria obra, e se não vier é porque o próprio artista na verdade é um impostor, alguém que tenta enganar os outros com algo em que nem ele acredita. Pelo menos enquanto durar o sonho de ser reconhecido por sua obra, por seu talento, por seu "novo" artístico, o artista faz do seu ego expandido a sua forma de resistência e o seu carro de batalha, sem o qual, provavelmente, a humanidade não teria sido beneficiada por aqueles tantos que nos elevaram como espécie por meio da arte. Claro que, mesmo antes e mais ainda depois de alcançado o reconhecimento artístico, convém domá-lo e saber deixá-lo no lugar que lhe cabe, até para que esse mesmo ego não passe a ser mais importante ou gerar mais impacto que a própria obra, como no caso dos egocêntricos irmãos de Manchester, cuja disputa de egos levou à implosão da maior banda dos anos 90, e como é o caso da maioria das bandas ao longo dos tempos. O ego é, por isso, quase sempre, condição e consequência do êxito e da derrocada de grandes artistas, mas sem dúvida é essencial à projeção de sua arte.
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