A utopia de salvarmos o planeta

A tragédia climática que atingiu recentemente o Rio Grande do Sul nos mostrou um pouco do custo das nossas escolhas, como espécie humana. Alertas da ciência não faltaram e são cada vez mais alarmantes - com o perdão da redundância - sobre as trágicas consequências do aquecimento global para o planeta que habitamos e para nós, obviamente, ainda que sejamos os causadores desse estrago ambiental. Para alguns cientistas já teríamos atingido o ponto de não-retorno e, portanto, já seria tarde demais; para outros - ufa! -, ainda há tempo de frear ou minimizar o impacto das mudanças climáticas. De qualquer forma, por incrível que pareça, esse debate ainda parece se restringir aos círculos científicos, ou a políticos e ativistas radicais ou "de esquerda", tantas vezes ridicularizados por "insistirem em fazer drama" ao invés de se renderem às maravilhas do progresso econômico sem limites. Parece que não somos capazes de, coletivamente, nos dedicar a evitar o colapso do planeta. Coletivamente, ao que parece, não somos mais capazes de nada, porque somos frutos de décadas de apologia e foco em sermos bem sucedidos individualmente e demonstrarmos esse status consumindo mais e mais. Vivemos, há muito, a apologia do indivíduo que visa, unicamente, o seu próprio bem estar. Sendo assim, por que dar atenção ao problema do planeta se ele não é meu e nem posso comprá-lo, como desejo comprar aquele carro, aquela roupa ou qualquer coisa que satisfaça o meu desejo pessoal. Vivemos uma grande dificuldade de desejar e fazer acontecer coletivamente, como sociedade que pense como espécie e não como indivíduo. É que pra isso é necessário, primeiro, voltar a acreditar em utopias, o que não serve ao modelo de sociedade baseado no individualismo. Pense que a última utopia que vivemos, acho eu, foi lá nos anos 70 quando a cultura hippie levou grande parte da juventude acreditar num mundo de paz e amor, e por um bom tempo essa mentalidade causou transformações importantes na forma como as pessoas passaram a pensar o mundo, até que o sonho acabou - como disse John Lennon. Mas, se não acreditamos na utopia de um planeta sustentável, como vamos passar do sonho à realidade? Como vamos salvar o planeta que vivemos? Continuará sendo o esforço de alguns poucos contra uma maioria passiva e indiferente, que após 2 meses apenas da maior tragédia climática do País, aqui mesmo onde vivemos, está muito mais preocupada em saber quando o aeroporto vai reabrir do que tratar a sério o problema ambiental em que estamos metidos. E assim seguiremos, ao que tudo indica, até que a próxima tragédia climática nos atinja, e a próxima, e a próxima, e a última...

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