30 anos sem Quintana
Lembro de estar na casa dos meus avós, bem criança, folhando o jornal Correio do Povo ainda em grande formato, quase maior que eu, e me deparar com o Caderno H, a coluna escrita pelo poeta Mario Quintana nas páginas culturais, com breves poemas, aforismos ou mesmo anedotas típicas de seu humor marcante. Mesmo guri, já me chamavam a atenção os seus poemas, ao mesmo tempo profundos mas que até uma criança poderia entender, do seu modo que fosse. A partir dali e de alguns anos mais, a poesia passou a ter o meu interesse, sobretudo as obras do Quintana e alguns outros poetas da língua portuguesa como Fernando Pessoa e Drummond. Mais alguns anos depois, estava no campus da faculdade, numa tarde chuvosa do dia 5 de maio de 1994, ouvindo a rádio no meu walkman (!), quando deram a notícia da morte do Poetinha, que, pensei, pareceu ter escolhido aqueles dias em que todos falavam apenas na perda trágica de Airton Senna, ocorrida no domingo anterior, para sair de cena com a mesma discrição com que levou sua vida, ou, como quem diz: estou indo, para quem quiser saber de mim, deixo minha poesia. O poeta das ruas de Porto Alegre, do cotidiano da cidade grande e dos contrastes de épocas e transformações, da precisão de poemas reduzidos à essência daquilo que era a razão de ser do próprio poema, sem penduricalhos, erudições gratuitas ou exibicionismos. O poeta que assumiu a simplicidade na sua própria vida, viveu-a, alimentando-se mesmo de poesia, sem esmolar favores, sem corromper sua obra, sem fazer política em seu próprio benefício - mesmo lhe custando uma cadeira na ABL ou uma carreira exitosa. Um poeta entregue, de corpo e alma, a sua arte. Sigo retornando ao Caderno H, cativo na minha cabeceira, e sempre encontro uma razão a mais pra me emocionar, refletir ou mesmo rir das tiradas do Quintana, e penso em como faz falta a poesia nos dias de hoje, em que nos afogamos em oceanos de prosa...
CADERNO H (Mario Quintana)
Das respostas
Não deves acreditar nas respostas. As respostas são muitas e a tua pergunta é única e insubstituível.
Tempo perdido
Havia um tempo de cadeiras na calçada. Era um tempo em que havia mais estrelas. Tempo em que as crianças brincavam sob a clarabóia da lua. E o cachorro da casa era um grande personagem. E também o relógio de parede! Ele não media o tempo simplesmente: ele meditava o tempo.
Lavoisier
Nada se perde; tudo muda de dono.
Da saudade
A saudade que dói mais fundo - e irremediavelmente - é a saudade que temos de nós.
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