A perda de um amigo
A perda de um amigo, inevitavelmente, impõe a perda de um pouco de nós mesmos, porque se perde um parceiro de momentos vividos e de histórias ocorridas com aquele comparsa querido, com quem dividíamos a preciosa memória dessas aventuras que alimentam a nossa nostalgia. Muitas dessas memórias de que nos orgulhamos, que apresentamos como troféus em outras rodas de amigos, que representam os tais bons momentos vividos, muitas delas são enterradas junto com o amigo que se vai - a parte que só ele lembraria para contar. E aquela vaga esperança de reviver aqueles dias, como se fosse possível voltar a ser quem éramos naqueles tempos que se foram, essa se esvai de vez pelo óbice intransponível da morte. É a finitude que se apresenta quando os nossos começam a nos deixar, e você começa a calcular o tempo que ainda teria, cuidando-se ou não, nessa matemática imponderável da vida. A perda de um amigo deixa um vazio onde havia o amor na sua expressão mais genuína, o amor da amizade, do querer estar com o outro e sentir-se bem com ele, do saber-se seguro por ter com quem contar em qualquer situação, a melhor e a pior, onde só os bons amigos provam todo o seu valor. Mesmo os amigos de quem nos afastamos ao longo do trajeto, se era uma amizade verdadeira, o laço não se parte e se renova na primeira lembrança compartilhada entre risos e olhares cúmplices. Enfim, os bons amigos sempre viverão no relicário que cada um guarda no lado esquerdo do peito, já cantou Milton Nascimento, e com eles temos ainda boas conversas cochichadas, imaginando o que diriam de tal ou qual situação para rirmos juntos novamente, ou para dividirmos dores difíceis, pois a amizade, como disse Vinícius de Moraes a seus tantos amigos, além de contagiosa é totalmente incurável, não importando o tempo e a distância...
Do lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam não
Mesmo esquecendo a canção
Venha o que vier
Qualquer dia, amigo
Eu volto a te encontrar
Qualquer dia, amigo
A gente vai se encontrar"
Ao querido e apressado amigo Rafael (Fael) Migliavaca, que nos deixou recentemente.
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