Nós e os nossos objetos

Na vida nos afeiçoamos a pessoas, a lugares e também a objetos. Essas coisas que em algum momento foram a razão de um desejo de ter e que, após conseguidas, ficam próximas da gente, em nossas casas ou no trabalho, ao nosso alcance, sempre disponíveis para tirarmos proveito de sua utilidade. Passam a fazer parte da dimensão material de nossas vidas. Às vezes são passageiras, quase descartáveis e que pouco são lembradas. Outras vezes, chegam a ser uma referência da nossa personalidade, motivo de carinho e apego, como companheiros que carregamos na jornada da vida. Creio que todos temos coisas assim a que nos apegamos. Eu tenho o meu baixo Fender Jazz Bass que comprei em 99 e para mim é como o cavalo do Zorro, minha espada em tantas aventuras nos palcos da minha modesta carreira de músico amador e noutros tantos momentos de prática solitária. Também tenho apreço por alguns discos e livros, cujo valor estimativo ultrapassa muito o preço desses itens. Mas confesso que não lembro agora de outros objetos que sejam importantes assim pra mim, e tenho há tempos percebido uma tendência a me desfazer das coisas e a restringir meu consumo. Hoje em dia penso muito antes de fazer uma compra, não apenas pela economia, mas até me convencer da necessidade da aquisição. De qualquer modo, é inegável que os objetos podem gerar um fascínio em nós que, mais ou menos consumistas, frequentemente nos vemos seduzidos por algo cuja conquista passa a ser um objetivo, um sonho ou a próxima fatura do cartão de crédito. Muitas vezes já me peguei olhando alguns dos meus objetos mais queridos e fico pensando o que serão deles quando eu não estiver mais por aqui. Ficarão órfãos meus objetos? Abandonados à sorte de talvez encontrar um novo dono que os cuide como eu, ou até melhor. Seguirão eles também o caminho do desaparecimento comum a todas as coisas, vivas ou não? E quando eles se forem também, o que restará para que os outros se lembrem de mim, se já não haverão rastros da minha existência? Talvez esse seja um bom motivo, muitas vezes inconsciente, de possuirmos coisas: materializar a nossa própria identidade, enquanto durarmos ou enquanto durarem elas...

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