Histórias de amor e rock'n roll

Recentemente, a música perdeu duas mulheres expoentes do rock: a nossa rainha Rita Lee e a mundialmente conhecida Tina Turner. Muito já se disse sobre suas vidas, obra e o legado de cada uma para as próximas gerações. Uma e outra, de seu modo, revolucionaram para além do cenário musical, abrindo caminho para a presença feminina no universo machista do rock e abalando o conservadorismo social. Disso tudo que se disse sobre elas, me chama a atenção as histórias de amor que marcaram suas trajetórias, ao mesmo tempo tão diferentes mas com um final que se pode dizer parecido. A de Rita foi com Roberto de Carvalho - o parceiro em todos os sentidos -, com quem permaneceu por 46 anos, constituiu família e formou um belo casamento também na composição de tantas músicas, muitas delas revelando a intimidade do casal, como as sensuais Mania de Você ("Meu bem você me dá/água na boca/vestindo fantasia/tirando a roupa"), Caso Sério ("Numa noite de verão/Ai, que coisa boa/À meia luz, a sós, à toa") e Doce Vampiro ("Venha me beijar/Meu doce vampiro"), até Desculpe o Auê, um pedido de desculpas após uma crise de ciúme da cantora. Juntos, compuseram Coisas da Vida, a meu ver, uma das melhores despedidas a alguém que partiu ("Ah, são coisas da vida/E a gente não sabe se vai ou se fica"). Tiveram seus problemas, obviamente, sobretudo pelos vacilos de Rita com drogas, que ela mesma expôs em sua excelente autobiografia. Mas, juntos, defenderam um amor a dois no meio conturbado do rock nacional desde os loucos anos 70 e 80 até o fim. Tina Turner, a sua vez, alcançou o sucesso ao lado de Ike Turner, que a levou até a fama e lhe deu o sobrenome, ao mesmo tempo em que a fez vítima da violência e humilhação. A cantora, literalmente, teve de fugir do relacionamento abusivo e caiu no ostracismo, até retornar de forma gloriosa com o álbum Private Dancer, de 1983, e a participação no filme Mad Max - Além da Cúpula do Trovão, em que atua e canta o sucesso We Don't Need Another Hero. Se você já ia ao cinema nos anos 80, como eu, vai lembrar dessa música...Daí em diante, Tina ganhou o estrelato mundial como poucos outros, homens ou mulheres, conseguiram. Só no Brasil, em 1988, ela colocou 182 mil pessoas no Maracanã, nesse que ainda é o recorde mundial de público pagante para uma cantora solo. Quanto ao amor, ela o reencontrou de um jeito inusitado, quando o produtor e empresário alemão, Erwin Bach, foi designado pela gravadora da artista a recebê-la no aeroporto. O ano era 1986 e ele era 16 anos mais novo que ela, o que não os impediu de ficarem juntos desde então. Em 2017, ele salvou sua vida, doando-lhe um rim que, provavelmente, a permitiu viver por mais 6 anos. Ambas, Rita e Tina, viveram bonitas e improváveis histórias de amor, o mesmo amor que cuidou delas ao final de suas vidas, que lhes deu a paz e a tranquilidade que necessitavam e mereciam para encerrarem suas histórias vitoriosas na música...e no amor.

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