Diários da pandemia - #Dia 9: prudência e caldo de galinha...
Durante os 12 dias que ficamos em isolamento, no início da pandemia de Covid-19, eu e minha esposa decidimos escrever diariamente sobre um tema que escolhíamos, relacionado àquele momento de tensão e incerteza, tentando nos manter serenos e filtrar o bombardeio de notícias, fake news e tudo o mais que vinha da rua.
Passados 3 anos desses dias isolados e do pior da pandemia, vou reproduzir aqui - com permissão da Cacá - esses textos que refletem como estávamos vendo e vivendo aquele período tão diferente de tudo o que havíamos vivido até então, e que nos ajudaram a ficarmos conectados à realidade e a nós mesmos.
#DIA 9 (29/03/2020) - TEMA: PRUDÊNCIA E CALDO DE GALINHA...
Ela:
Nestes
dias de reclusão, buscamos ânimo e alegria, entre outras coisas, resgatando
paixões. O livro de receitas que ficou de lado, o jardim que deixamos para
cuidar depois, e os livros... A leitura sempre foi um gosto comum em
nossa casa, e temos um acervo que nestes dias está sendo muito visitado para
empréstimos e releituras- ou reencontros. Nos últimos dias, os escolhidos por
nós continham muito mais do que uma história: para nossa supresa, nas suas
primeiras páginas, encontramos palavras da minha querida avó... que dividia sua
paixão pela literatura conosco, e deixava lindos recados em cada livro que nos
presenteava. Palavras cuidadosamente escolhidas, vindas do coração e filtradas
pela sua inteligência e sensibilidade, que sempre farão sentido e nos
emocionarão. Uma de suas máximas, que guardo para minha vida, era a frase:
“ filha, se não tiver nada de bom para dizer sobre alguém ou alguma
situação, fique calada.” Em outras palavras, reflita antes de expor seus
sentimentos e pensamentos. Seja gentil. Seja prudente- prudência é sabedoria: e
minha avó era sábia, definitivamente. Nos tempos de #prontofalei, com as redes
sociais repletas de palavras muitas vezes escritas ou ditas sem qualquer
reflexão mais profunda ou preocupação com suas consequências, talvez isto
pareça “ démodé”... Mas nestes últimos dias, percebo que talvez finalmente
estejamos nos dando conta novamente do poder das palavras: de como elas
influenciam nossas vidas. Talvez tenhamos que, por conta da necessidade,
resgatar outra paixão que grande parte de nós deixou para trás: a prudência...
Eu:
O planeta encontra-se numa
encruzilhada de dimensões talvez nunca antes vistas: priorizar a saúde ou a
economia? Poderia parecer óbvio que a saúde pública seria prioridade a qualquer
governante, mas os efeitos sociais devastadores de uma depressão econômica
generalizada atemorizam tanto quanto (ou mais) a perda de vidas no rastro do
Coronavírus. Acredito que a escolha pela vida prevalecerá, no sentido de dar
prioridade para que haja o menor número de vítimas possível dessa pandemia.
Sendo esse o norte, os governos deverão seguir permitindo atividades econômicas
conforme sua essencialidade e financiando a renda dos menos favorecidos,
enquanto seguimos preparando os meios para enfrentar o inevitável aumento de
casos que alcançará o sistema de saúde. Daqui do nosso isolamento individual,
por sua vez, a precaução deixou de ser uma virtude abstrata para se tornar um
hábito materializado numa série de cuidados com a higiene pessoal e,
infelizmente, no distanciamento social de tantos com quem queríamos estar. Diante
de uma crise em que vidas perdidas não podem ser recuperadas - ao contrário de
perdas econômicas -, e de uma doença que não se cura com canja de galinha,
precaver-se ainda é o melhor remédio.
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