Diários da pandemia - #Dia 6: informação

Durante os 12 dias que ficamos em isolamento, no início da pandemia de Covid-19, eu e minha esposa decidimos escrever diariamente sobre um tema que escolhíamos, relacionado àquele momento de tensão e incerteza, tentando nos manter serenos e filtrar o bombardeio de notícias, fake news e tudo o mais que vinha da rua. 

Passados 3 anos desses dias isolados e do pior da pandemia, vou reproduzir aqui - com permissão da Cacá - esses textos que refletem como estávamos vendo e vivendo aquele período tão diferente de tudo o que havíamos vivido até então, e que nos ajudaram a ficarmos conectados à realidade e a nós mesmos.


#DIA 6 (26/03/2020) - TEMA: INFORMAÇÃO


Ela:

Voltou à sua cidade natal há poucos dias, depois de um período longo na Europa, cheio de saudades e histórias para contar. Foi recebido pelos seus pais, que o levaram diretamente à casa dos avós- aqueles abraços foram sonhados por meses. Decidiu então comemorar o retorno: planejou um encontro com família e amigos. Naquela tarde comprou comes e bebes e aproveitou o tempo livre para dar uma caminhada e reencontrar conhecidos. Em uma cidade pequena como a dele, todos em algum momento fizeram parte de sua rotina-por isto abraços, sorrisos e beijos não eram economizados. Ele não sabia, mas trazia na bagagem mais do que saudade: colocando todos em risco- com apenas seu carinho, quem diria.” Poderia ter acontecido aqui, em nossa cidade. O que fez com que ela hoje esteja ( ainda)  segura, e não tenha se tornado forte candidata  a uma tragédia, como as que assistimos em algumas outras cidades do mundo? O bom uso da informação. Estamos ainda aprendendo a lidar com tantos meios e formas de comunicação, e compreendendo que a informação pode ser veneno ou antídoto, apresentar  problemas ou soluções, fomentar união ou discórdia: pois chega a nós  já depurada, e por quem não  sabemos. Quem produz a informação possui a responsabilidade de a repassar sem distorções ou manipulações – e justamente pela disseminação dos meios de transmissão, se multiplicam as notícias de origem duvidosa, mal interpretadas ou pessimamente repassadas. Uma grande ironia: quanto mais as temos, parece que menos sabemos. Acredito  que nestes tempos de isolamento físico, um dos nossos grandes desafios seja desenvolvermos uma nova relação com a informação: mais íntima, crítica e inteligente-procurando fontes, comparando notícias, questionando antes de acreditar. Entendermos que somos parte do processo, agentes de sua propagação. A informação ( ou a falta dela)  pode mudar o curso das coisas, para o bem ou para o mal.  E seu bom uso mais do que nunca depende de nossos cuidado e atenção.

Eu: 

Tanto quanto a linguagem, da qual deriva, a informação é um dos pilares da sociedade, servindo ao individual e ao coletivo a ponto de ser difícil imaginar uma ordem social mínima sem ela. A informação nos orienta, instrui, protege e nos permite criar estratégias de como nos conduzirmos em qualquer situação. Nesses dias em que estamos sob a ameaça de um inimigo onipresente e ainda pouco conhecido, a informação funciona como um guia de sobrevivência e como uma janela aberta sobre o panorama do combate à pandemia. A evolução da doença e seu enfrentamento pelas autoridades públicas, as consequências econômicas e as medidas para sua mitigação, tudo chega até nós pela informação. O problema é que chega também a informação falsa, tendenciosa, incompleta, alarmista, que, sob vários pretextos, até mesmo como simples piada, confunde e desorienta. Além disso, a fake news é talvez a mais contagiosa de todas as pragas, disseminando-se nos meios digitais e incubando nas mentes pouco esclarecidas, com graves efeitos sobre os juízos de valor e a correta percepção da realidade. A falsa informação pode, assim, tornar muito mais difícil a solução de um problema bem verdadeiro...

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