Diários da pandemia - #Dia 10: política
Durante os 12 dias que ficamos em isolamento, no início da pandemia de Covid-19, eu e minha esposa decidimos escrever diariamente sobre um tema que escolhíamos, relacionado àquele momento de tensão e incerteza, tentando nos manter serenos e filtrar o bombardeio de notícias, fake news e tudo o mais que vinha da rua.
Passados 3 anos desses dias isolados e do pior da pandemia, vou reproduzir aqui - com permissão da Cacá - esses textos que refletem como estávamos vendo e vivendo aquele período tão diferente de tudo o que havíamos vivido até então, e que nos ajudaram a ficarmos conectados à realidade e a nós mesmos.
#DIA 10 (30/03/2020) - TEMA: POLÍTICA
Ela:
Disse
Aristóteles que“ o homem é, naturalmente, um animal político”. E sendo a
política, em uma sentido mais amplo,” tudo o que se relaciona a grupos
que integram a sociedade organizada”, realmente todos somos parte deste
mal necessário, como a chamamos vulgarmente. Embora resistamos em admitir. Esta
resistência que possuímos em nos entendermos como seres políticos pode ser um
dos grandes problemas da ordem social como ela se encontra hoje. É confortável
e conveniente resumirmos a política a um contexto partidário, porque podemos
escolher entre fazer ou não parte dele, conforme nossa disposição e vontade.
Não nos damos conta de que desta forma acabamos resumindo a política a uma
profissão vulgar: onde muitas vezes se candidatam à vaga, em função do contexto
em que as premissas foram consolidadas, os mais vaidosos ou aqueles que
procuram um emprego bem remunerado sem muito esforço. Ironicamente,
chegamos da pior maneira possível ao momento onde ninguém mais pode ignorar
ou negar a política. Em uma situação de absoluta urgência e caos iminente, são
os nossos representantes político-partidários que estão na linha de frente,
apoiando ( como deveria ser) ou contrapondo-se a posicionamentos técnicos,
sendo peças-chave no sentido da organização e do preparo da sociedade para os
dias que virão. Alguns se afirmam, com posturas positivas e discursos
convincentes e agregadores, outros são desmascarados em sua ignorância e/ou
arrogância – qualidades que somadas ao poder político podem ser letais. Será
que ainda há tempo de repensarmos nossa importância nisto tudo, entendendo que
somos os verdadeiros políticos e agentes das mudanças, antes que a sociedade
como ela é entre em colapso? E por onde começamos?
Eu:
Já dizia Aristóteles que o Homem é um
animal político, mas o homem político é um animal peculiar. A política, no
senso comum, é vista como um mal necessário. Algo a que muitos têm aversão,
desprezo, mas que ninguém nega ser imprescindível a uma sociedade organizada,
aliás, como organizar um grande grupo de pessoas sem fazer política? Outros a
confundem com pura negociação, quando esta é ínsita ao trato político mas não a
esgota, porque não explica o fato de que sua finalidade não é atender os
interesses pessoais do negociador, mas sim os coletivos dos que são por ele
representados - ou ao menos deveria ser assim. Justamente por isso, a política
deveria ser a tarefa humana mais elevada, por visar o bem comum. No entanto, o
que se vê é a política ser dominada por políticos que a denigrem e, como seria
de se esperar, prejudicam aqueles a quem deveriam favorecer, seja por
pilantragem e favorecimento pessoal, seja por total incompetência ou despreparo
para a função. Nesses dias, estamos vendo o barco ser conduzido por um
timoneiro ignorante e inapto para a travessia dessa grande tempestade. O que
irá acontecer, se afundaremos ou se seremos salvos num motim, ou pela sorte, é
algo que ainda vamos descobrir e, espero, nos ensine muito sobre a importância
da política e de escolher bons políticos.
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