Diários da pandemia - #Dia 1: sem poder sair de casa num sábado de sol

Durante os 12 dias que ficamos em isolamento, no início da pandemia de Covid-19, eu e minha esposa decidimos escrever diariamente sobre um tema que escolhíamos, relacionado àquele momento de tensão e incerteza, tentando nos manter serenos e filtrar o bombardeio de notícias, fake news e tudo o mais que vinha da rua. 

Passados 3 anos desses dias isolados e do pior da pandemia, vou reproduzir aqui - com permissão da Cacá - esses textos que refletem como estávamos vendo e vivendo aquele período tão diferente de tudo o que havíamos vivido até então, e que nos ajudaram a ficarmos conectados à realidade e a nós mesmos.



#DIA 1 (21/03/2020) - TEMA: SEM PODER SAIR DE CASA NUM SÁBADO DE SOL


Ela:

Há alguns anos, voltando de férias, fui dar aquele abraço apertado em minha avó.
Conversamos sobre o quanto é bom sair, e melhor ainda voltar. E jamais esqueço
de sua frase: “Filha, Deus é tão sábio que faz cada um acreditar que sua casa 
é o melhor lugar do mundo”. Hoje acordamos com um dia glorioso de sol e calor, 
um sábado de revista, como se diz.. Diferente dos outros, não vamos sair de 
moto, pegar uma praia, almoçar com as famílias. Fazer aquelas compras adiadas 
ou pagar uma conta que ficou para trás no centro. Somos nós e nossa casa.
Miro a paisagem enquanto abro as janelas, respiro fundo e lembro da frase de minha
avó. Traço meus pequenos planos: deixar o jardim renovado, o quarto perfumado,
a cozinha cheirando a comida. Ler na poltrona preta, reorganizar os livros,
ouvir músicas novas. Finalmente separar as fotos daquela viagem para montar o
álbum. Ficar quietinha enquanto meu marido toca violão. E conversar. 
Fazer planos. Namorar. Comentar sobre o quanto é bonito nosso lugar.
Entender sobre  o privilégio que temos em compartilhar tudo isto. E em termos 
um ao outro, onde quer que estejamos. Sim, com certeza, o melhor lugar do mundo 
é aqui. E a hora é agora.


Eu:

Poucas coisas nos impelem tanto a ir para a rua como um belo sábado de sol. 
Mas este é um sábado diferente dos outros que já vivemos. Estamos nos 
primeiros dias de um isolamento, ainda mais autodeterminado que imposto, 
para impedir o avanço do Coronavírus, essa doença que se espalha na mesma 
proporção do medo que causa à grande maioria das pessoas no mundo, 
com exceção de quem acha tudo isso só uma histeria sem razão de ser. 
Vamos seguir nos ocupando em nossas casas, falando à distância com 
nossos familiares e amigos, tentando filtrar o bombardeio de notícias e, 
na medida do possível, manter a sanidade pensando em outros sábados de 
plena liberdade de espaços e sem temores confinados no peito...

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