Fidel

O nosso reducionismo simplista tende a dividir tudo entre extremos: o bom e o mau, o certo e o errado, o justo e o injusto. Hoje foi anunciada a morte de Fidel Castro, e as notícias o qualificam ora como ditador, ora como revolucionário, ora como o líder maior de seu país, ora como seu algoz. Porém, se existe alguém que parece não se encaixar nesses maniqueísmos é Fidel Castro. Personagem e história complexas, vejo Fidel como um revolucionário no início, que libertou Cuba de um governo oligárquico e serviente aos Estados Unidos, instaurando as bases de uma nação igualitária baseada num sonho socialista que, até certo ponto, pareceu possível. Mas é inegável que o revolucionário veio a se tornar um ditador, à frente de um governo a que se atribui a morte de mais de 12.000 pessoas, além da fuga de muitos milhares mais. A revolução, no fim, libertou Cuba de Tito Fulgêncio e do domínio americano, mas aprisionou os cubanos num regime que enaltece o coletivo mas restringe o indivíduo, tirando-lhe a liberdade de ir e vir e progredir. Essa mesma liberdade cerceada que foi a causa da derrocada de outros tantos regimes socialistas e - inevitavelmente - ditatoriais. A população de Cuba, hoje, possui alimento (racionado), segurança, educação e saúde de qualidade, graças à revolução de Fidel, mas as notícias que chegam não mostram o país arrasado pela perda de seu líder, nem festejando sua morte, mas sim um ambiente de silêncio e resignação, como quem respeita a importância do ele fez, ou como quem rumina a dúvida sobre o quão bom ou ruim foram os longos anos de poder de seu Comandante em Chefe.

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