Viajantes solitários

Recentemente, nessa janela para a vida dos outros que chamamos de rede social, acompanhei - meio sem querer -, dois conhecidos que, ao mesmo tempo, viajavam sozinhos: um por lugares glamourosos da Europa, outro pelo paraíso natural da Indonésia. Mesmo distantes um do outro e sem se conhecerem, posavam igualmente em suas "selfies" junto a monumentos e belas paisagens. Confesso que achei triste aquilo de viajar sozinho e, sobretudo, mostrar-se sozinho, como se quisessem dividir com os que estavam aqui as sensações de estar nesses lugares. Nunca gostei de viajar em grupo, porque acredito que se perde muito da liberdade de improvisar e de seguir seus próprios interesses de viagem. Passa-se mais tempo negociando do que desfrutando do lugar, numa tensão constante em saber se as decisões tomadas agradaram aos outros ou não dar bandeira que desagradaram a você mesmo. Mas sou daqueles que consideram alguns bons companheiros, ou ao menos uma companhia - no meu caso, companheira - fundamental. Assim como as fotos não reproduzem a emoção de estar em tal lugar ou em dada situação, acredito que uma viagem só é completa quando compartilhada, não à distância, mas junto de alguém. Compartilha-se o êxtase, o medo, a ansiedade, a aventura, a experiência de viver um tempo num lugar que não é o nosso e do qual só nos apossamos dos momentos vividos ali e levados na memória. Compartilha-se o cansaço de um dia trilhado numa cidade incrível. Uma comida, boa ou estranha - sim, aquele sanduba de buxo no mercado público de Florença. O brinde na hora de relaxar, ao final da tarde, numa barra de bar, olhando nos olhos do outro o brilho de satisfação em estar ali, aventurando-se. Enfim, por mais que eu goste de passar meus momentos sozinho, penso que viajar solitariamente é uma triste forma de exílio...

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