O sal da terra




Assistimos nesta semana ao documentário "O sal da terra", sobre a vida e a obra do renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, que concorreu ao Oscar 2015. Sou particularmente fã dele, tanto pelo fotógrafo que é como também por seus projetos fotográficos, próximos do fotojornalismo mas com realce artístico e humanitário inconfundíveis em seu preto e branco característico. O filme trata rapidamente da vida pessoal de Salgado, de sua união com a mulher Lívia (sua grande parceira profissional), filhos - um deles co-diretor do documentário, ao lado do consagrado Win Wenders -, o exílio durante a ditadura, o encontro e a decisão pela fotografia, além do projeto de reflorestamento da fazenda de seu pai em Minas Gerais, onde nasceu o protagonista, hoje tornada uma reserva florestal de mata atlântica. No entanto, é mostrando a sequência de trabalhos realizados pelo fotógrafo, ao redor do mundo, que nos deparamos com uma grande panorâmica dos tempos em que vivemos, da realidade social por vezes bela, por outras aterrorizante. Passando pelos recônditos da América Latina, por tribos indígenas isoladas na floresta amazônica, até os movimentos migratórios causados por guerras sangrentas na África e na Ioguslávia, aos poços de petróleo em chamas no Kuwait, às duras imagens dos mortos pela fome na Etiópia, até o deslumbramento da natureza intacta, retratada em Gênesis - sua mais recente obra. Impossível não ficar impressionado com o desprendimento desse homem que passou grandes períodos longe de sua família para registrar em
fotos os locais mais inóspitos do planeta, muitas vezes convivendo com o perigo e o desconhecido,
em atitude de enorme consciência e respeito por seu trabalho, mas sobretudo pelo respeito a quem é fotografado e a sua identidade cultural; ou ao caráter revelador da imagem captada, seja como fato social, seja como denúncia da violência desse animal feroz chamado Homem, o sal da terra. O filme, por vezes bastante pesado, termina leve e com uma mensagem otimista, de que podemos nos reconciliar com a natureza e, quem sabe, com nós mesmos, e assim como aqueles que o aplaudiram ao final da sessão, eu também aplaudo o nosso querido conterrâneo Sebastião Salgado, por ele e por sua obra.

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