Homenagem ao Padre Ermelindo

Eu fui escoteiro. Na verdade, um dos lemas do Escotismo é "uma vez escoteiro, sempre escoteiro". Então, sou escoteiro! E assim me sinto até hoje mesmo, pois devo a isso o gosto pela aventura, pela natureza e liberdade. Foi um grande impacto sentir-se livre com 11, 12 anos de idade. Não por uma possível sensação de que pudesse fazer o que quisesse, mas por se ver responsável pela própria segurança e bem estar. Era assim que nos sentíamos, como meninos que dependiam de si mesmos, acampados em algum lugar remoto, cercado por natureza e distante do conforto cotidiano, tendo que montar nosso próprio acampamento, fazer nossa própria comida, matar cobras, colaborar uns com os outros e dormir em barracas, longe dos nossos pais e sob a supervisão de alguns poucos adultos, nossos chefes escoteiros. Além disso, também fui chefe de patrulha, "comandando" outros escoteiros e buscando vencer os jogos e competições com as demais patrulhas. Mesmo nunca tendo sido competitivo, creio que aprendi algo sobre liderança, sobre a importância de conciliar e envolver as pessoas nas decisões que afetam o grupo. Graças ao Escotismo, tenho certeza, amadureci mais seguro e saudável. Me tornei uma pessoa melhor. Há poucos dias, recebi a noticia do falecimento do meu chefe, amigo e uma das pessoas mais bondosas que conheci. O “Padre Ermelindo”, como era conhecido por todos, a meu ver foi mais que um religioso, era um missionário que não media seu sacerdócio pela mais absoluta obediência às regras da Igreja, mas pelo bem que fazia aos outros através de ações inclusivas, movimentos comunitários e obras sociais. Ele, um padre, fundou o movimento escoteiro na minha cidade - e que acabou logo após sua saída. Criou movimentos religiosos de jovens e de casais por onde passou. Construiu um complexo cultural em Cachoeirinha, para desviar jovens carentes do sedutor caminho das drogas, e foi reconhecido por isso a ponto de se tornar secretario municipal de ação social daquela cidade, que hoje, suponho, lamenta muito sua ausência. A ultima vez que o vi e estive com ele, fui lá convidá-lo para abençoar meu casamento, ao que ele agradeceu mas declinou porque teria compromissos de secretario para cumprir no dia da cerimonia. Não me deixou ir embora sem antes mostrar-me, orgulhoso, a imponente obra do centro cultural que idealizou e fez acontecer. Algo que parecia grande demais pra vir daquele homem franzino e de fala mansa. Em tempos extremamentes individualistas como os de hoje, é difícil imaginar alguém que se doe tanto a sua própria comunidade. Talvez porque não vemos o óbvio que ele provavelmente visse: o quanto mais fizermos para melhorar o que está a nossa volta, melhor viveremos, e vice-versa, porque a rua está na porta de todos nós e essa porta é frágil...




Minha singela e sincera homenagem a esse grande homem que conheci e meu querido amigo, pelo que fez por mim e por tantos outros escoteiros, ou carentes, ou necessitados de sua palavra ou dedicação. Muito obrigado, Chefe Ermelindo Lottermann.



Todos nós somos decisivos para o bem ou para o mal do mundo, através da nossa ação ou omissão.

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