Arte & subversão

A polêmica da semana aqui nos pagos foi o processo movido contra o músico Tonho Crocco (Ultramen) por um deputado estadual que se sentiu ofendido com a música "Gangue da Matriz", que critica o aumento de 73% (!) auto-aplicado pelos legisladores gaúchos e faz um paralelo com a famosa gangue de jovens violentos que moravam em torno da Praça da Matriz nos anos 80, onde se encontra a Assembléia Legislativa Estadual.

Sem entrar no mérito sobre se a crítica contida na música procede ou não, ou sobre o conflito entre a liberdade de expressão e a censura da obra - já bastante discutidas -, o que me anima é ver um artista de expressão ainda se preocupar em usar sua arte para protestar. O protesto político ou social através da música parece ser algo demodé hoje em dia (exceção feita ao Rap), em que o meio musical voltado ao grande público - com raras e ótimas exceções - está preso num esquema puramente comercial, ao qual não interessa polemizar ou levantar bandeiras, mas sim vender o "produto" ao maior público possível dentro do segmento visado.

Concordo que um dos papéis da arte - e talvez o principal -, aí incluindo a Música, seja subverter o estado atual de coisas, para que as pessoas se desacostumem a olhar as coisas e pensar sobre elas de uma mesma forma, ou então para difundir uma mensagem crítica, um chamado, um tapa sonoro que, como um hino em tempos de guerra, o impelem a sair do conformismo ou a pensar criticamente.

Mas quem são os nossos atuais artistas subversivos? O nosso Chico Buarque da hora? O cara que leva alguma crítica pras suas músicas é de pronto tachado de comunista, antigo ou chato. E muitas vezes é isso tudo, porque é alguém de outros tempos que segue batendo na mesma tecla, contrastando com a falta de coro para suas causas nas novas gerações.

Mas, enfim, é só pra desabafar. Pra quem cantou "Que país é esse?", "Burguesia" e "Bichos Escrotos" tempos atrás, e que sabia o que essas músicas significavam, às vezes incomoda o fato de girar o dial e só encontrar músicas sem qualquer significado...

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