Memórias Musicais II


Longe de ser um encontro como o de Jagger e Richards, ou Mcartney e Lennon, mas certamente também uma coisa de destino, eu e o Coringa nos achamos lá pelos nossos 13 anos, quando ele procurava um baixista pra banda que tentava montar e me convidou pra tocar o troço - sim, porque eu não havia sido ainda apresentado a um baixo até então. Ganhei uma grana da mãe pra abandonar a idéia da prancha de surf e comprar o instrumento, um baixo Giannini Sonic bem meia boca. Mas era novo, era meu e naquele tempo a oferta de instrumentos era mesmo muito pequena. Os importados sequer eram vistos por aqui, quanto mais acessíveis de preço. E assim começou a minha relação com o baixo e, principalmente, a ANJOS REBELDES, juntando ainda o Sérgio Valério (baterista) e o André (vocal). Os ensaios logo saíram da sala da casa do Coringa pra uma peça no porão da minha casa, com toda a tralha de equipamentos (cubos, bateria etc) e todo o barulho que um bando de moleques consegue produzir - naquela altura minha mãe já deveria achar melhor eu ser surfista mesmo... E tocávamos o que? Rock´n roll! Com um pé no rockabilly e outro em Ramones. E mais: fazíamos som próprio! Sim, numa época em que a música independente era utopia, aproveitamos a grande onda do rock nacional from Brasília pra criar nossas próprias músicas, bem, ou aquilo que era possível criarmos com nossa pouca experiência e capacidade de composição. E avançamos ao ponto de sair da garagem e encarar o palco. O primeiro show (14 anos!?) foi numa festa anos 60 no clube (CRP) organizada pela galera mais velha do colégio. Fomos todos caracterizados a la Elvis, com jaqueta de couro e brilhantina, tocar para umas 200 pessoas também vestidas de acordo com a época. Tocamos músicas nossas e covers de Banho de Lua e mais alguma coisa sessentona. A sensação de estar no palco fazendo música e contagiando as pessoas, a luz, a fumaça, a magia - depois de vencido o pavor inicial -, enfim, aquilo passaria a fazer parte do que sou e do que me realiza. Depois desse vieram outros shows em clubes, festas de amigos, gincanas de colégio, festival de bandas. Crescemos como banda, mas ainda éramos muito pirralhos pra lidar com aquilo e com nossas vidas. Vieram desentendimentos e senti que não dava mais pra mim. Saí! A Anjos continou algum tempo com outro baixista, mas logo depois acabou também e cada um foi viver sua vida. Olhando agora, não tenho dúvida que poderíamos ter ido muito mais longe, assim como foram o TNT e a Cascaveletes que eram contemporâneos e tinham a mesma idade nossa. Mas não tínhamos quem nos orientasse e não sabíamos o que fazer pra conquistar espaço nesse meio. A música continuou pra mim e pro Coringa, mas com ênfases bem diferentes. Ele realmente possuía o dom - segundo alguns até, não serviria pra mais nada - e foi montar outras bandas, com outros parceiros, em outras cidades e por muitas outras noites, até chegar a ser o músico conceituado que é hoje como sideman da Paula Toller e radicado no Rio. Eu, bem, deixei o baixo um tempo de lado, fui surfar e estudar muito pra exercer outra profissão, sem deixar jamais de ouvir muita música e procurar novos cúmplices, que eu vim a achar um bom tempo depois numa banda tão escrachada quanto boa: a TIRANOSSAURO SEX!

Ah, vai uma foto dos moleques num show em gincana do colégio...

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