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A minha dívida com a cultura negra musical

Neste 20 de novembro comemoraremos o primeiro feriado nacional da Consciência Negra. A meu ver, justíssimo, pelo tanto que as populações negras das mais variadas origens contribuíram para a formação da identidade nacional, e pelo muito que merecem ser reconhecidas após tanta exploração e sofrimento a que foram submetidas, desde a época da escravidão e ainda nos dias de hoje, na desigual ocupação de espaços nos segmentos mais favorecidos de nossa sociedade. Mas, falando do ponto de vista pessoal, quero declarar que sou devedor - e muito! - da cultura negra musical, e assim quero continuar sendo como um grande admirador e fã da música feita ou originada de artistas, músicos e compositores negros. Particularmente, não gosto nem costumo fazer esse tipo de distinção racial em qualquer outra situação. Penso que qualquer julgamento ou preconceito relacionado a cor ou origem de alguém representa a forma mais elevada de ignorância que alguém pode ter. Por outro lado, a distinção aqui serve para

Quem você queria ser…na sua infância? Ou o que a criança que você foi queria pra você?

Você cumpriu o sonho da sua criança anterior? A que você foi antes de ser adulto? Aquela que tinha a vontade mais genuína do futuro que queria pra você? Antes dos testes vocacionais, das profissões da moda, de ter de fazer algo para pagar as contas, das conveniências que te impuseram ou que você aceitou, daquilo o que deu pra conseguir. Você acredita que aquela criança aprovaria as escolhas que você fez? Ela se alegraria em ver quem você é hoje, quem você se tornou? Ela teria orgulho da vida que você conquistou pra ela? Espero que sim, por ela e por você. Mas não se preocupe se as coisas saíram muito diferentes e ela talvez não aprovasse o que você fez com o futuro dela, afinal ela era só uma criança, não é? Não é?! Enfim, mesmo que você não tenha se tornado o astronauta ou o bombeiro que a sua criança queria ser, e que não haja mais tempo pra uma tal correção de rumo, sempre haverá como se reconectar a ela pelos olhos dela, na forma simples de ver o mundo e o que realmente importa, se

Momentos confessionais

Nelson Rodrigues, ao responder a Clarice Lispector sobre se havia gostado da entrevista dada a ela, disse que gostara profundamente, porque, segundo ele, na vida o que mais vale são os momentos confessionais. Concordo, profundamente também, por serem esses momentos que, por vezes, definem as pessoas que, mesmo de passagem, vão se tornar importantes em nossas vidas, sejam elas marido ou mulher, familiares ou amigos. Aliás, não acredito em amizades verdadeiras enquanto você não há a liberdade de se confessar a um amigo e vice-versa. A confissão é o sinal exterior da confiança no outro, e essa confiança também é a porta que se abre para o amor. Diferente da paixão, a gente ama em quem confia. Por isso que a perda de confiança é o caminho mais rápido para perder o amor, embora não seja o único. Voltando aos momentos confessionais, esses em que nos confessamos ou ouvimos a confissão de alguém com quem nos importamos são valiosos, porque permitem revelar o que há de mais autêntico em nós ou

Os (des)empreendedores

Já faz um bom tempo que somos estimulados a empreender, a assumir a condução do próprio trabalho, o do it yourself , para desenvolver o próprio negócio e livrar-se do patrão e do emprego convencional. Há todo um aparato de suporte para o empreendedorismo, com suas palestras e cursos motivacionais que giram em torno de um óbvio bem apresentado e prometem a receita do sucesso, além de incentivos legais diversos e apoio de entidades sérias. Não tenho dúvida alguma que empreender um negócio próprio é o caminho rumo à libertação financeira, a autonomia profissional e a autorrealização no trabalho, mesmo com todas as dificuldades que isso implica, principalmente pelo fato de você estar só, ou apenas com seus sócios na empreitada, geralmente com pouco capital e muitas incertezas. Eu mesmo, sendo um profissional autônomo, sou um empreendedor de minha própria carreira profissional. Mas o que eu critico, e ponho à reflexão, é sobre qual a medida e o limite desse empreendedorismo. Não me conformo

A você, meu amigo

A você, meu amigo, peço desculpas e compreensão. Por ter te levado a passar por tantas coisas comigo, que muitas vezes não fizeram bem a você. Tê-lo feito correr riscos e até a se machucar e adoecer. Pegar sol demasiado ou tiritar de frio, molhar-se na chuva e tomar sereno, descumprindo as recomendações maternas. Virar noites em bares com outros amigos, às vezes bebendo além da conta e ouvindo bobagens que ninguém merece e devaneios de todo tipo, apenas para me acompanhar na boemia, pagando o preço das ressacas matinais. Ou noutro extremo, te fazendo trabalhar em excesso, testando os limites do que é saudável para levantar o dinheiro gasto comigo. Te fazendo comer de tudo, nem sempre do melhor e até coisas que eu mesmo preparei pra você. Por ter te levado comigo em ocasiões chatas, a roubadas e a grandes perdas de tempo. Desculpe-me! Mas teve o que foi bom, reconheça! Comigo, viajamos a lugares incríveis, vivemos grandes momentos para lembrar, provamos muitos sabores, dançamos e fizemo

O ego do artista

A semana que passou foi marcada pela notícia que assolou o meio musical e os fãs de todo o planeta: o retorno da banda Oasis com os irmãos Liam e Noel Gallagher, após uma separação tumultuada que durou 15 anos. Os dois nunca foram os queridinhos da mídia, ao contrário, sempre se esforçaram em passar uma imagem de soberba sem limites e desprezo por quase tudo, exceto talvez por seus ídolos confessos - os Beatles - e pelo time de sua cidade natal, o Manchester City. Por isso, angariaram também muita antipatia, até mesmo entre o público que admirava suas canções, mas não ia lá muito com a cara dos ingleses, separando bem o apreço musical da idolatria aos artistas. Esses mesmos artistas polêmicos e mundialmente famosos, aliás, podem servir para tratar de um outro assunto que tem tudo a ver com eles e com todos que vivem de expressar sua arte, mais ou menos conhecidos e idolatrados. O ego do artista, talvez, seja a qualidade ou condição inerente a quem se lança ao ato de se apresentar, repr

A mulher com tapa-olho

Não havia como não chamar a atenção. Era uma mulher madura, uma senhora, bonita e bem vestida, mas que tinha uma bandagem em um dos olhos. Discreta, é verdade, da cor da pele, mas que lhe tapava completamente o olho esquerdo. E isso chamava a atenção de todos do bar que cruzavam por ela. Por quê? Creio que pelo fato de buscarmos nos outros, em primeiro lugar, o olhar. É ele que diz sobre nós, como estamos e talvez um pouco mais até, antes mesmo de qualquer palavra. Penso que a ciência ainda evoluirá para descobrir os meandros dessa comunicação ou linguagem que se dá pelo olhar e que é tão eloquente e cheia de significados. Por isso, uma mulher com tapa-olho traz em si uma dúvida, um mistério instantâneo, que nos leva a questionar de pronto sobre o que lhe aconteceu: uma simples cirurgia de catarata, uma luta de espadas no convés de um navio pirata, a cicatriz de uma incursão malsucedida no front , ou a vontade de ver as coisas pela metade? Ironia à parte - aqui totalmente reprovável -,