O amor fiel

Nesta semana que passou (24/04), a escritora e cronista gaúcha Martha Medeiros, publicou no Instagram a notícia da morte de seu ex-marido e pai de suas duas filhas: o publicitário Telmo Ramos, aos 66 anos, após uma parada cardíaca.

O pequeno texto - em tamanho! - a mim pareceu uma declaração de amor ao amor que eles viveram:

"Com profunda tristeza, aviso que o amado Telmo, meu ex-marido, pai das minhas filhas, faleceu no final da noite de ontem em São Paulo, de parada cardíaca. É chocante dar essa notícia por rede social, mas, enfim, é o meio de alcançar seus inúmeros amigos e colegas da publicidade. Telmo querido, obrigada por nossas meninas, pelo jazz, pelas risadas, pelo Maverick, pelo Chile, pelo amor e por nossa amizade. Descanse em paz", escreveu Martha na legenda da foto.

Expressar a sincera gratidão por aquilo que de valioso resultou de uma relação, ou foi vivido no seu curso, em especial o amor que foi compartilhado e cuja memória permanece guardada conosco como um tesouro, mesmo após ele ter deixado de existir, é ser fiel a esse amor.

No seu livro "Pequeno tratado das grandes virtudes", André Comte-Sponville, ao tratar da fidelidade e, especificamente, da fidelidade entre o casal, relativiza sua importância como exclusividade sobre o corpo do outro, valorizando, isso sim, a fidelidade ao amor vivido.

Nas palavras do filósofo: "A fidelidade é o amor conservado ao que aconteceu, o amor ao amor, no caso, amor presente (e voluntário, e voluntariamente conservado) ao amor passado. Fidelidade é amor fiel, e fiel antes de mais nada ao amor".

E arremata nessa linda passagem: "Como eu poderia jurar que sempre te amarei ou que não amarei outra pessoa? Quem pode jurar seus sentimentos? E para que, quando não há mais amor, manter a ficção, os encargos ou as exigências do amor? Mas isso não é motivo para renegar ou não reconhecer o que houve. Por que precisaríamos, para amar o presente, trair o passado? Eu juro não que sempre te amarei, mas que sempre permanecerei fiel a esse amor que vivemos".

Alegro-me por ter vivido um amor nessa vida, amor ainda presente nos meus dias, mas que igual continuaria vivo mesmo que tivesse deixado de existir, porque nunca, jamais, deixaria de ser fiel a ele, ao que vivi em razão dele e ao que me tornei por conta dele, ainda que já estivesse vivendo um novo amor, estando convicto de que não há qualquer contradição no que digo.

Obrigado, Martha, por nos lembrar disso, e meus sinceros sentimentos por sua perda.

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