O dia
Parece
que perdemos a noção do dia como a mais importante medida do tempo.
Chegamos ao ponto de desprezá-lo em rotinas mecânicas de trabalho, lazer
e puro tédio, porque estamos sempre mirando à frente, ao futuro, onde
esperamos que as coisas irão acontecer, quando elas acontecem hoje e
somente hoje. O futuro é uma incógnita e o previsível é pura pretensão.
Tudo, absolutamente, de bom e ruim, acontece no espaço de um dia. Mesmo
quando algo se prolonga por mais tempo, os dias não serão iguais entre
si. O beijo, o amor, o encontro, a dor, a perda, a conquista, a emoção, o
instante de êxtase, a reconciliação, o dito e não dito, a queda, o tiro, a morte, tudo!, passa-se em um dia,
o dia de hoje, o presente. Suponho que nossos ancestrais viam no dia o
ciclo único e perfeito, o desafio a ser vencido na aventura de
sobreviver, saindo de suas cavernas com o sol e recolhendo-se à noite
com os produtos da jornada, sentindo-se vitoriosos. O futuro para eles,
creio, era por demais improvável para ser considerado num mundo de
tantos riscos. Hoje, o homem vive sob a falsa segurança de que tudo é
planejável e que há controle sobre o amanhã, mas não é assim, o amanhã
não é certo e, como diz o Gil, "tudo agora mesmo pode estar por um
segundo". Mesmo a felicidade, essa sina dos homens de todas as épocas,
também só pode ser vivida e sentida a cada dia, sem postergações ou
antecipações. O dia, meus amigos, enfim, é tudo que temos...
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