Dylan e a palavra

Sobre o Nobel ao Bob Dylan, nada mais oportuno. Não falo em relação ao próprio, de quem sei o quanto é cultuado como compositor e intérprete de uma obra referencial na música norte-americana, mas da qual não tenho maior intimidade e, na verdade, não está entre meus artistas prediletos. A oportunidade está em reconhecer que a literatura, como manifestação artística expressa em palavras, não está restrita ao formato do livro. Como negar a poesia escrita em versos de musicas, nas letras de Dylan e de outros tantos cantautores e letristas, como Vinicius, Chico, Cazuza, Renato Russo, Raul - só pra citar alguns brasileiros. Alguém vai dizer que as crônicas sociais expressas em tantos dos nossos sambas, por um Cartola, Adoniran ou um Noel, não são artísticas? E o que é a arte em palavras senão Literatura? Assim como esta, através dos tempos, teve o poder de desencadear transformações na sociedade e nos indivíduos, derrubando costumes, preconceitos e dogmas, instruindo e destruindo verdades preestabelecidas, também a palavra musicada o fez, e talvez sua contribuição para a cultura popular seja tão importante quanto a dos livros. Atualmente, quando se fala até na morte do livro - o que não acredito -, substituído pelos e-books, blogs, conteúdos virtuais escritos de toda ordem etc., a literatura segue sendo expressa em diferentes veículos e mídias que a ampliam, sem restringi-la a um único formato, libertando-a, como toda a arte deve existir e ser reconhecida. O Nobel de Dylan é o reconhecimento e a justa homenagem a tantos autores que colocaram suas palavras em letras de músicas, e nem por isso deixaram de fazer literatura ou são escritores menores. Afinal, a palavra é uma só...

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