Espectador privilegiado


Nessa última e recente ida ao Rio para gozar as merecidas férias, estava nos meus planos conhecer o Beco das Garrafas e o Bar Garota de Ipanema (antigo Veloso), pontos referenciais do nascimento da Bossa Nova e de sua trupe. Soube que o Beco das Garrafas está sendo retomado com algumas casas noturnas e bares, mas acabou que não foi dessa vez que conheci o lugar. Conhecemos o Garota de Ipanema, localizado na Rua Vinícius de Moraes, em Ipanema. O lugar já está meio decadente e, pelo jeito, sobrevive graças aos turistas (sobretudo estrangeiros) que conhecem sua história. Entramos, escolhemos uma mesa, pedimos chopps e bolinho de bacalhau. O que lembra o vínculo do lugar com seus ilustres frequentadores de outras épocas são apenas algumas fotos na parede evocando os mais famosos bossanovistas e o movimento. Foi então que reparei naquele garçom de mais idade e o chamei para perguntar se ele trabalhava no bar havia muito tempo, ao que ele confirmou que trabalhava há 40 anos e que era seu "primeiro e último emprego". Na hora perguntei afirmando que ele teria conhecido Tom Jobim, Vinícius e os demais que os acompanhavam em longas tardes e noites de chopps, conversas inimagináveis e muita, muita música. Ele, obviamente, confirmou, e com uma certa resignação de quem guardava aqueles tempos como um grande tesouro. Disse que servia pessoalmente Tom Jobim, inclusive na beira da praia, ali em frente, dias antes dele viajar para os EUA onde faleceu. Perguntei então se não fôra ele que atendera o telefonema do Sinatra no bar pedindo para chamar o Tom. Pra minha surpresa, ele confirmou, dizendo ainda que não sabia falar inglês para saber que se tratava do ilustre americano, indo apenas chamar o Brasileiro para a conversa que iria resultar no disco que ambos gravaram. Diante da minha surpresa e da simpatia daquele senhor com suas tão valiosas lembranças, não resisti a tirar uma foto com o Seu Arlindo, esse espectador privilegiado de conversas e momentos protagonizados por homens que fizeram o mundo se curvar à música brasileira. Grande Seu Arlindo, que inveja!
* a história do telefonema do Sinatra é real e consta da biografia de Tom, feita por Sérgio Cabral.

Comentários

  1. Inveja fiquei eu com o teu "feelling"... O Rio tem dessas surpresas né!! Talvez, também por isso, seja denominada cidade maravilhosa!!!
    Abração!!!

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