O melhor e o pior do ser humano

Nesses dias em que estamos passando pela maior catástrofe climática no Estado do Rio Grande do Sul, com perdas numerosas de vidas, multidões de desabrigados e prejuízos ainda sequer dimensionados, é possível dizer algumas palavras sobre o comportamento humano em meio a essa tragédia. Por um lado, o melhor, está a onda de solidariedade que imediatamente se formou e tomou uma projeção gigantesca. Vimos voluntários utilizando seus barcos e veículos, correndo riscos à própria vida, dedicando-se à exaustão para socorrer e resgatar pessoas desalojadas pelas águas. Doações de todos os gêneros, inclusive de dinheiro, não param de chegar de outras cidades gaúchas, de outras partes do Brasil e até do exterior, abastecendo os abrigos lotados e dando alento aos que perderam tudo ou que aguardam poder retornar a suas casas. Até mesmo os animais atingidos pela inundação estão sendo salvos e abrigados, seja por seus próprios tutores que sobem ao helicóptero com o bichinho debaixo do braço, seja por voluntários que não deixam de resgatá-los nos mesmos barcos que salvam pessoas. A solidariedade, a meu ver, é uma ação de amor. Amor ao bem, ao próximo, à humanidade. Valorizamos a nossa própria vida mais do que tudo, naturalmente - talvez só menos do que a vida de outra pessoa amada -, mas salvar uma vida ou contribuir para isso é um gesto de tamanha bondade que não há como deixar de se sentir contagiado pelo bem que é feito. Foi Jesus quem disse que o principal mandamento é o de amar-vos uns aos outros, e nessas horas extremas é que vemos o poder gerado pelo amor, movendo multidões a fazer o bem sem, muitas vezes, nem ver a quem. Quem mais salvou vidas nessa calamidade não foram as autoridades públicas e seus recursos (tempestivos ou não), mas sim os voluntários e seus atos de heroísmo por amor ao próximo. No entanto, há também um outro lado, sombrio e triste, sobre a mesma terra arrasada. É o lado da maldade humana, do egoísmo e da total indiferença com o sofrimento alheio. O ser humano é o lobo de si mesmo, alguém já disse. É o seu próprio predador. Ao mesmo tempo em que se acumulam os feitos de voluntários e a chegada de mais doações de todos os lados, assomam-se também as notícias de saques e roubos em zonas desocupadas pelas enchentes, do assédio e até estupros em abrigos contra mulheres e crianças, dos golpes de toda ordem de quem se apresenta como benfeitor e busca apenas locupletar-se da boa vontade alheia, de pessoas que buscam se autopromover sobre o pano de fundo da destruição, daqueles que criam e dos que espalham fake news por motivações político-ideológicas ou pelo mero prazer de disseminar preocupação e angústia, daqueles que abusam de sua condição pessoal privilegiada para comprar além da própria necessidade os alimentos e a água essenciais para todos. Enfim, são tantos exemplos que ilustram o pior do ser humano nesses dias, que poderíamos deixar de ter esperança em qualquer salvação que dependa de nós mesmos, não fosse a crença de que a humanidade, em sua maioria, sabe reconhecer o bem e colocá-lo em prática para sua própria preservação. É o que eu prefiro acreditar...

Em tempo: minha solidariedade a todos os que foram de alguma forma atingidos pelos eventos climáticos de maio de 2024.

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