A hora incerta

Certos choques de realidade, por vezes, nos fazem perceber o quanto nossa vida é frágil. Semana passada, fui surpreendido pelo falecimento de um conterrâneo, com a mesma idade minha, levado por um câncer fulminante. Não era uma pessoa muito ligada a mim, sequer poderia chamar de amigo, era mais um conhecido dos tempos de colégio, mas sofri um certo choque com o fato porque, inevitavelmente, me coloquei em seu lugar. Se eu partisse agora, nesses meus quase 40 anos, teria feito tudo o que deveria fazer, vivido o suficiente, deixado alguma marca que perdurasse? Tenho certeza que não. Assim como imagino que ninguém a essa altura da vida diria "estou pronto". Entretanto, na maioria das vezes a hora extrema é incerta e não permite negociações ou adiamentos. E o que fazer? Viver todos os dias como se fossem o último? O carpe diem é um notório lugar comum, mas é possível adotá-lo como objetivo de cada dia? E o trabalho, as tarefas de casa, os compromissos de cada um? E a vontade de simplesmente não fazer nada, ou quase nada, especialmente com quem se gosta? Imagino que viver sob a própria cobrança de desfrutar intensamente cada dia seja algo mais estressante do que considerar a possibilidade desse dia ser o último. Admiro, realmente, aqueles que ainda jovens conquistam grandes feitos, para si próprios ou para a humanidade, mas me parece que chegam a isso porque, além de talento e quiçá genialidade, concentram todo o seu pensamento e energia para realizar sua obra. A realidade, porém, mostra que a grande maioria das pessoas vive de pequenas vitórias e fracassos pessoais, perdas e ganhos, construindo uma história de vida comum - nem por isso considerada medíocre -, que só permite mesmo ao juízo de quem a viveu avaliar o quanto teve de plenitude.

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